Eu esperei dias e noites pelo poema
Esperei por ele no poente
Ele vinha e acenava
Mas ele escapava pra fugir no fim do horizonte
E só voltava pra acenar de novo no nascente
Eu esperei pelo poema e senti que ele chegava
Cantando, caindo, no barro da telha, na chuva
Senti que ele chegava no cheiro do vento
Senti que ele chegava quando ele cantava na concha que guardava o mar
Ou então no rosnar do gato saltando no ar
Mas eu vi ele sorrindo nas mãos de uma criança
Pequeninas e frágeis, correndo atrás de uma borboleta
Eu também vi esse poema chorando
Nas mãos de pedra de um lavrador semeando a terra
Esperei dias e noites pelo poema
Procurei por ele em terra e várzeas
No céu, no mar
Nos quatro cantos cardeais
Mas ele tava ali quieto
Guardado e guardando tudo o que eu não vi
Eu o que vi na negra pele de um poço de pedra
Um poço de água de pedra guardado na eternidade
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